quarta-feira, 20 de maio de 2009

SOLIDÃO REAL

SOLIDÃO REAL

Nascemos, cada um de nós, sós, vivemos sós e morremos sós. Somos seres individuais únicos. "Cada pessoa é um universo", como escreveu Raulzito em uma de suas ótimas letras. E cada universo, sendo único e distinto, exclusivo, faz dos indivíduos, de cada um de nós, irremediavelmente solitários. Aceite isso quem puder. E muitos já aceitaram, com alguma dor.

Os outros, isto é, "o não-eu" (mãe, pai, irmãos, parentes, amigos, filhos, a sociedade....enfim) são como brinquedos com os quais uma criança sozinha vai "brincando", para ir se distraíndo e disfarçando sua solidão. Esquecendo-se de que está, na verdade, sozinha e solitária, vai encontrando pelo menos um pouco de si mesmo fora de si, isto é, nos outros. E, em geral, é só um pouco mesmo. Um pouco de si nos outros, um pouco de empatia.

Claro que o mesmo processo ocorre invertido, isto é, do ponto de vista de quem é o "brinquedo" da criança em relação a ela, que também está e é solitário, pois também é um indivíduo único e exclusivo. Quero dizer: é um processo mútuo e recíproco de todos com todos, variando apenas o grau da solidão ou empatia que cada indivíduo experimenta.

Por mais que alguém tente fugir da solidão através dos relacionamentos interpessoais (amizades e amores, maternidade/paternidade(filhos)/parentesco(família) sua solidão jamais é vencida, pois a empatia nunca se dá completamente e raramente os encontros são satisfatórios, estando, aliás, mais para desencontros, na verdade: muito mais diferenças do que afinidades, divergências, do que convergências.

Sofremos por sermos tão solitários, mas, não sabemos como mudar isso, já que, forçar uma convivência incômoda com "o diferente do outro" e com "a divergência do outro", em nome, tão somente, da preservação da própria convivência em si ou estado de "casado" ou "juntado", ("acompanhado", "enrolado" ou seja lá que nome queira se dar a isto), parece não ser mais uma opção plausível, sensata e razoável, como foi na modernidade (obs:supondo que vivemos uma tal pós-modernidade, obviamente), não é?

Afinal, a experiência prévia de viver totalmente sozinho é pressuposto e causa de maturidade e aptidão para viver e conviver com o outro, numa relação amorosa potencialmente bem sucedida?

Traria mesmo ao indivíduo, a experiência do isolamento, maior aptidão para a relação ou, ao contrário, torna-lo-ia ainda mais introvertido e incapaz para a convivência satisfatória com o outro?

Eis a questão? Vamos pensar e decifrar, oras....

2 comentários:

  1. Sem entender ou aceitar a si mesmo, não há como fazê-los com o outro.

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  2. Para entender e aceitar a si mesmo, alguém deve, preliminarmente, viver só consigo próprio, morando sozinho, deve se isolar? Ou é, justamente, no maior convívio com o outro/os outros, que as pessoas vão se conhecendo, se entendendo e se aceitando a si mesmas, de modo mais claro, real e verdadeiro??? Eis a questão, ainda como inicialmente formulada, clamando por resposta....rs...

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